top of page

A nova matriz demográfica redesenha o mundo do trabalho

As mudanças demográficas estão redesenhando o mercado de trabalho em todo o mundo. O envelhecimento da população, a redução do número de jovens, a participação feminina (ainda limitada em alguns contextos) e a necessidade de acolher imigrantes são fatores que, se não forem encarados com estratégias claras, podem impactar negativamente o crescimento econômico e a sustentabilidade social.

 

1. Envelhecimento da população

O envelhecimento populacional é uma realidade em diversos países, especialmente nas economias desenvolvidas e em transição. Segundo projeções mundiais atualizadas pela ONU em 2024, até 2080, o número de pessoas com 65 anos ou mais será maior do que o de jovens com menos de 18 anos. No Rio Grande do Sul, é esperado que essa inversão já ocorra em 2033, segundo projeções do IBGE. Isso representa um desafio direto para o mercado de trabalho, pois a força de trabalho ativa diminui proporcionalmente, enquanto aumenta a necessidade de sustentar sistemas de aposentadoria e saúde.

Em primeiro lugar, é preciso que o envelhecimento seja saudável para que o idoso possa participar efetivamente do mercado de trabalho. No Brasil, a expectativa de vida saudável é 10 anos inferior a expectativa de vida, segundo dados da OMS. As doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) prevalecem nessa parcela da população, causando incapacidades que podem levar a sua perda de autonomia e/ou independência. Para adiar a ocorrência desse cenário, é essencial a promoção de um estilo de vida saudável.

Ao mesmo tempo, empresas e governos precisam adaptar-se, promovendo políticas que incentivem a permanência de trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho, como flexibilidade de horários e capacitação contínua. Além disso, é fundamental eliminar preconceitos relacionados à idade, valorizando a experiência e o conhecimento acumulado por esses profissionais.

 

2. Redução do número de jovens

Outro fenômeno relacionado é a queda nas taxas de natalidade em várias regiões do mundo. Com menos jovens ingressando no mercado de trabalho, surgem lacunas em setores que tradicionalmente dependem de trabalhadores jovens, como serviços e construção civil.

É necessário investir em educação e formação profissional de qualidade, assegurando que os jovens que entram no mercado sejam produtivos a ponto de suprir a redução de produção em consequência da diminuição da quantidade de trabalhadores. Eles precisam estar preparados para lidar com os desafios de uma economia cada vez mais tecnológica e globalizada.

 

3. Participação feminina no mercado de trabalho

Apesar dos avanços na igualdade de gênero, muitas mulheres ainda enfrentam barreiras significativas para ingressar e permanecer no mercado de trabalho. Mundialmente, as mulheres são 50,2% da população em idade de trabalho, mas somente 39,7% das pessoas empregadas eram mulheres, conforme dados da OIT de 2022. Aumentar essa taxa de participação é essencial para o crescimento econômico dos países e para a diversidade nas organizações.

O principal motivo para uma mulher em idade ativa estar fora do mercado de trabalho é o cuidado não remunerado. Estereótipos de gênero ainda a levam a arcar com uma parcela desproporcional das responsabilidades de cuidado não remunerado, como cuidado com familiares e tarefas domésticas. Por isso, a falta de políticas de cuidado, que promovam o reconhecimento, a redução e a redistribuição do cuidado seja na forma monetária, de serviços ou de tempo, é um dos obstáculos que impedem a plena inserção da mulher no mercado de trabalho. A participação da mulher na força de trabalho depende, portanto, da promoção de um ambiente mais inclusivo e flexível com iniciativas tais como licença parental compartilhada, incentivo ao trabalho híbrido e programas de liderança feminina.

 

4. Necessidade de acolher imigrantes

Uma vez que a transição demográfica ocorre de maneira desigual no mundo, os imigrantes representam uma solução importante para manter a força de trabalho ativa em países que passam pelo envelhecimento populacional e queda no número de jovens. No entanto, o acolhimento dessa população exige políticas de integração eficazes, não somente voltadas ao acesso a empregos, mas também a quesitos como moradia, cultura, língua, saúde e educação.

Além de preencher lacunas no mercado de trabalho, os imigrantes também trazem diversidade e inovação às organizações. Investir na sua inclusão é uma forma de impulsionar o desenvolvimento econômico e cultural dos países receptores.

 

As mudanças demográficas apresentam desafios profundos, mas também oferecem oportunidades de transformação para o mercado de trabalho. A chave está em reconhecer essas tendências e agir de forma estratégica, promovendo políticas inclusivas, valorizando a diversidade e investindo no desenvolvimento humano.

Ao enfrentar questões como o envelhecimento da população, a redução no número de jovens, a promoção da equidade de gênero e o acolhimento de imigrantes, será possível construir um mercado de trabalho mais resiliente, inovador e sustentável para o futuro.




Juliano Colombo 

Profissional com formação nas áreas de Gestão, Marketing e Finanças, com mais de 25 anos de experiência em gestão de equipes multidisciplinares e implantação de projetos de alto impacto nas áreas de saúde e educação, liderando projetos de inovação e transformação social, sendo por 10 anos  450Superintendente do SESI no Rio Grande do Sul. Atualmente é consultor, palestrante e membro de Conselhos de Entidades que atuam nas áreas de Educação, Inovação e Previdência Privada.

Nos últimos anos tem se dedicado a estudar os principais fatores que afetam o presente e o futuro do trabalho.

 

bottom of page